Estudo global da diversidade genética das castas de videira autóctones e a repercussão na economia dos vitivinicultores e do país
A diversidade genética dentro de cada uma das variedades antigas de videira (castas) é uma matéria ainda mal compreendida pela grande maioria de quantos se movimentam na área da vinha e do vinho. Quando observada à vista, a casta é uma população relativamente homogénea, mas atrás dessa aparência visual esconde-se um mundo de diferenças relativamente às características que realmente contam para a produção e para a qualidade do vinho: rendimento, teor de açúcar, acidez, antocianas e tantas outras… Trata-se de diferenças quanto a características que, em linguagem genética, se designam por “quantitativas”, isto é, tais que quando avaliadas numa população heterogénea mostram variação contínua e que são muito influenciadas pelo ambiente (ao contrário, por exemplo, da cor do bago, que varia por saltos, que é facilmente reconhecível à vista e que se diz “qualitativa”). Infelizmente, a variação contínua e a confusão resultante dos efeitos ambientais tornam a avaliação das características quantitativas particularmente complicada e só acessível a especialistas, mas os métodos para o efeito existem e revelam-nos uma realidade espantosa e cheia de consequências. Para se ter uma ideia da amplitude das diferenças dentro da casta e do aproveitamento económico que delas se poderá fazer, bastará observar os dados experimentais do Quadro 1. Notar-se-á que podem existir dentro de uma casta plantas com capacidade produtiva (enquanto geneticamente determinada) à volta de 10 vezes superior a outras e com álcool potencial (não representado no quadro) duplo de outras! Ora, isto representa um filão extremamente valioso, a ser explorado pela selecção genética, e um alerta para todos quantos têm que tomar decisões de plantação de vinhas novas.
A exploração do filão tem vindo a ser levada a cabo no país desde há cerca de 35 anos, primeiro por parte de uma rede informal de universidades, serviços do Ministério da Agricultura, associações e empresas da vinha e do vinho, a Rede Nacional de Selecção da Videira, e, desde 2009, pela Associação Portuguesa para a Diversidade da Videira (PORVID), com resultados mais adiante detalhados. O alerta, cabe aos viticultores ouvi-lo e repercuti-lo nas suas decisões de escolha dos materiais de propagação para novas plantações. Nada que todos os cultivadores de outras espécies agrícolas não façam já correntemente, mesmo quando se trata de culturas anuais, em que uma escolha errada da semente se pode corrigir no ano seguinte, mas que os viticultores encaram ainda com grande ligeireza, mesmo sabendo-se que o erro da escolha da semente é para os longos anos de vida da vinha! [Artigo na íntegra disponível na edição impressa + ]
Um texto da autoria de Elsa Gonçalves & Antero Martins (Instituto Superior Agronomia/Universidade de Lisboa & PORVID)