Revestimento das vinhas - um contributo para a redução de custos

A vinha desempenha hoje um papel muito importante na economia agrícola, onde, para além dos desafios que se colocam naturalmente a este sector, tem que superar ainda as dificuldades inerentes a um mercado especialmente competitivo e exigente.

Os vitivinicultores de hoje não se limitam a produzir boas uvas e bons vinhos, transformaram-se em verdadeiros gestores empresariais, preocupados não só com a obtenção de um bom produto, mas também com o seu marketing e comercialização.

O sucesso neste sector depende sobretudo do incremento da competitividade, que pode ser conseguida essencialmente por duas vias: pela redução dos custos de produção (sem prejuízo da qualidade) e pela obtenção de factores de diferenciação que permitam acréscimos de valor ao produto final.

Felizmente, existem actualmente ferramentas à disposição dos vitivinicultores que os ajudam não só a cumprir as imposições do mercado, como também a conseguirem a tal diferenciação, indispensável para a fácil comercialização dos seus produtos.

O solo constitui um elemento essencial para qualquer cultura e em especial para a viticultura. Ao longo das últimas décadas, com o aumento da mecanização e da utilização de herbicidas, o viticulor considerou como “boa prática agrícola” ter o solo completamente despido de vegetação herbácea. Esta prática, tradicional também noutras culturas, como o olival e os pomares, conduziu ao empobrecimento dos solos, em consequência da erosão e da redução da matéria orgânica.

O revestimento das vinhas permite obter benefícios importantes na redução dos custos de produção e na qualidade do vinho, com impacto positivo na protecção e recuperação da fertilidade do solo, do ambiente e da paisagem, facilitando ainda os sistemas de protecção integrada e de agricultura biológica.

 

Aspectos técnicos a considerar

 

A selecção da mistura de sementes a ser utilizada no revestimento da vinha deve ter em conta as condições edafoclimáticas de cada região dando particular atenção à fertilidade do solo, de forma a encontrar a mistura mais adequada às necessidades específicas de cada vinha.

Conscientes que grande parte das vinhas são de sequeiro e sabendo que é de capital importância que não haja competição hídrica entre a vinha e o revestimento, devem ser utilizadas variedades de ciclo curto e de porte mais prostrado, para que as plantas do revestimento se encontrem na fase final do seu ciclo vegetativo quando a humidade no solo começar a escassear e a vinha estiver no início do abrolhamento.

 

Modo de preparação e instalação do revestimento

 

O terreno tem de ser preparado de forma a que a camada superficial (6 a 10 cm) fique bem desfeita, desagregada, firme e relativamente plana. Os fertilizantes e correctivos necessários (de acordo com os resultados da análise de solo) devem ser espalhados à superfície e a operação de sementeira deve ser efectuada o mais cedo possível (Setembro/Outubro), logo após a vindima. A densidade de sementeira pode variar entre os 20 e 40 kg/ha (sendo as doses mais elevadas recomendadas nas sementeiras mais tardias) e a semente enterrada superficialmente a uma profundidade de 0,5 a 1,0 cm. A utilização do rolo dentado é essencial na compactação da terra após a sementeira.

 

Condução e manutenção do revestimento

 

 No ano de instalação, o revestimento deve ser deixado em repouso completo a partir do início da floração das plantas para garantir a formação do banco de sementes. Nos anos seguintes este repouso é facultativo, dependendo do desempenho da cultura.

Antes do final do Verão é indispensável remover toda a erva seca através de acção mecânica (cortar e destroçar a erva), uma vez que eventuais resíduos de erva seca não removida causam dificuldades na germinação das sementes e a consequente perda de qualidade do revestimento. Esta recomendação é válida para o primeiro ano e seguintes.No fim do Verão, de preferência logo que a erva seca se encontre totalmente removida, devem aplicar-se 30 a 40 unidades de fósforo (P2O5) e se necessário idêntica quantidade de Potássio (K2O).  

 

Vantagens da utilização de revestimentos semeados

Podemos agrupar as vantagens da instalação de revestimentos vegetais em 3 grandes grupos interdependentes:

1 – Vantagens agronómicas

A melhoria do recurso base da agricultura – o solo, é só por si uma enorme vantagem. O aumento da fertilidade do solo garante o aumento da sua produtividade, o que significa que progressivamente produziremos mais com menores custos. A melhoria da estrutura do solo representa por outro lado, uma maior capacidade de infiltração e de retenção de água, o que representa um enorme benefício nas vinhas de sequeiro e uma redução nas necessidades de rega nas vinhas de regadio.

A cobertura permanente do solo facilita o trânsito de máquinas e pessoas mesmo após sucessivos eventos de precipitação, o que se traduz em ganhos de oportunidade para a realização de diversas operações culturais.

Uma vez instalados, os revestimentos biodiversos são verdadeiros ecossistemas de vida, que servem de abrigo e alimentação para inúmeras espécies de organismos auxiliares, facilitando desta forma as estratégias de protecção integrada da vinha.

Estudos recentes indicam que os revestimentos têm um efeito positivo na qualidade das uvas, pois estas resultam mais ricas nos parâmetros que lhe conferem maior valor. Isto deve-se ao efeito regulador de temperatura que os revestimentos representam e à melhor regulação do ciclo da água em benefício das videiras.

 

 

 

2 – Vantagens ambientais

O revestimento da vinha consegue ter impactos positivos em todos os recursos naturais:

Solo: como já vimos anteriormente, a protecção do solo contra a erosão e as melhorias das suas propriedades físicas e químicas, é por si só uma enorme vantagem ambiental.

Água: Por serem auto-suficientes em azoto, os revestimentos biodiversos não necessitam de adubações azotadas e diminuem as necessidades da própria vinha neste nutriente, que é facilmente lixiviável. Não havendo erosão, não há problemas com a contaminação dos aquíferos a jusante. O solo coberto desempenha um óptimo papel como regulador do ciclo da água.

Ar: É hoje reconhecida a capacidade que os revestimentos biodiversos têm para sequestrar carbono atmosférico no solo, sob a forma de matéria orgânica.

Biodiversidade: Estes são sistemas naturalmente biodiversos, que têm a capacidade de albergar muito mais vida que qualquer sistema de revestimentos espontâneos ou de mobilização da entrelinha.

A melhoria da paisagem é uma consequência lógica do revestimento. Frequentemente, noutros países com grandes tradições vitivinícolas, a melhoria da paisagem é objectivo primário da instalação de revestimentos, pois muitas vezes esta actividade encontra-se ligada ao turismo.

 

3 – Vantagens económicas

As vantagens económicas advêm logicamente das vantagens agronómicas e ambientais por duas vias:

a. Pela redução de custos - com adubos, regas e tratamentos fitossanitários;

b. Pelo aumento dos ganhos - consequentes do aumento da produtividade, da melhoria da qualidade e da possibilidade de diferenciação do produto final, que uma correcta comunicação pode facilmente potenciar.

 

Conclusões

Começámos este pequeno artigo por referir que o sucesso da vitivinicultura portuguesa depende fortemente da capacidade dos seus actores para conseguirem aumentar a sua competitividade - seja por via da racionalização dos custos, pela melhoria da qualidade dos seus produtos ou pela capacidade para se diferenciarem da concorrência global.

Os revestimentos biodiversos semeados não respondem na plenitude a estes desafios, mas, como tentámos demonstrar esta prática cultural permite diminuir custos e melhorar a produtividade e a qualidade dos produtos – uvas e vinho.

Integrando estes e outros benefícios numa estratégia global de marketing, conseguiremos ainda a diferenciação dos nossos produtos e a potenciação de novos serviços como o enoturismo.

 

Autoria: José Freire e Ana Bagorro - Fertiprado