Touriga Nacional e Encruzado - as bases da elegância e maturidade dos vinhos do Dão

 A primeira missão das Comissões é assegurar a qualidade dos vinhos através do processo de certificação e fiscalização. A segunda é a promoção dos vinhos. Por qualquer uma das vias o objectivo final é melhorar a eficiência e competitividade da fileira vitivinícola na região. Neste sentido, precisamente para promover competitividade, a CVR Dão vai realizar um concurso para premiar a melhor vinha. Será para estimular e sensibilizar os viticultores para a importância de ter boas vinhas, capazes de produzir uvas de boa qualidade, e obviamente vinhos de boa qualidade.

 

Um centenário foi o que a Comissão Vitivinícola Regional do Dão comemorou em 2008. Actualmente à frente dos desígnios da CVRD está Arlindo Cunha, cuja apreciação é a de neste século de existência o Dão conseguiu afirmar-se como uma região produtora de grandes vinhos. Diz mesmo que até há 25 anos era a região de Portugal produtora de vinhos tintos por excelência, com marcas de grande tradição, algumas quase míticas.

Mas, depois da adesão à União Europeia, verificou-se uma grande alteração estrutural em termos geográficos na produção de vinhos, nomeadamente pela emergência do Alentejo, que hoje em dia tem uma enorme expressão na produção nacional, mas também com a descoberta que o Douro fez para os vinhos de mesa.

Isto fez com que o espaço do Dão durante algum tempo ficasse diminuído e com algumas dificuldades de afirmação. Entretanto, nos últimos 15 anos a situação alterou-se porque o Dão reagiu, fez o trabalho de reestruturação das suas vinhas e dos seus vinhos e voltou a colar-se ao pelotão da frente, sendo hoje novamente uma região afirmativa e com ambição.

Essencialmente, o que caracteriza o Dão é a identidade que foi capaz de preservar. Mas essa identidade não tem de ser estática e os vinhos que hoje se fazem são diferentes dos de há 30 ou 35 anos. São diferentes porque os gostos dos consumidores também mudaram bem como as tecnologias disponíveis. Apesar destas transformações há uma identidade proveniente de duas grandes castas que neste terroir produzem vinhos muito específicos e marcados, e que são a Touriga Nacional nos tintos e a Encruzado nos brancos. Com estas duas castas como base é possível fazer vinhos com enorme longevidade. Têm também grande potencial de envelhecimento e são muito equilibrados, daí o slogan escolhido pela CVR: “Dão, vinhos de elegante maturidade”.

 Há um processo histórico de afirmação e evolução ao longo de um século (maturidade) e ao mesmo tempo um processo de ajustamento ao mercado (elegância e equilíbrio).

   

Mercados

O Dão não foge muito à regra do contexto geral dos vinhos portugueses. É escoado essencialmente para o mercado nacional, no mercado da União Europeia, nomeadamente França, Bélgica, Alemanha e Holanda e um pouco em Inglaterra. Fora da União Europeia é vendido nos países onde existem comunidades portuguesas (Brasil, Angola, Estados Unidos e Canadá).

 

 Adegas Cooperativas precisam de ganhar escala

O Dão é essencialmente uma região de minifúndio. São cerca de 20 mil hectares de vinha, em 60 mil parcelas. Cerca de metade dos produtores têm menos de um hectare, o que explica que metade da produção de vinho esteja concentrada nas Adegas Cooperativas. Mas também há quem tenha apostado na vinha com um carácter empresarial.

O presidente da CVR aproveita para sublinhar que no Dão, como noutras regiões do país, as Adegas Cooperativas passam por uma situação muito difícil, porque são elas que estão junto dos pequenos produtores e têm de rapidamente ir para patamares mais agregados e por ventura uma forma de gestão mais profissional. Talvez até, entre elas, chegarem a acordos, ou de fusão ou de concentração para ganharem mais escala e assim poderem atingir os mercados internacionais com maior facilidade.

A actual situação em parte é fruto das Adegas Cooperativas terem sido pensadas para o mercado local, “mas tem falhado um trabalho a nível de política pública (agrícola) e foi uma oportunidade perdida, no actual PRODER, não se ter aprovada uma medida especificamente destinada a este efeito, ou seja, fomentar concentração de cooperativas para ganharem a escola necessária para actuarem no mercado global, associada à profissionalização da sua gestão”. 

Aliás, para o dirigente, que até já foi Ministro da Agricultura, essa é uma questão fundamental para a agricultura portuguesa que, ao contrário do que muitos afirmam, evoluiu bastante com a adesão à União Europeia e tem hoje verdadeiros casos de sucesso, como o vinho, mas que não é único. 

“Hoje há mercado, logo, há que criar os instrumentos de política agrícola adequados para ajudar os agentes económicos (neste caso os agricultores) a concretizarem esses objectivos”.