Animais são testados e conhecidos em todos os parâmetros
Desde 1987 que a raça mertolenga é protegida e apoiada pela ACBM-Associação de Criadores de Bovinos Mertolengos. A cobertura em termos de apoio técnico a esta raça autóctone resulta na publicação anual da avaliação genética e do Catálogo de Touros. É um trabalho que teve início em 2003 e é hoje um documento fundamental para quem tem interesse pela raça, revelando todos os aspectos do melhoramento animal nos seus diferentes parâmetros. É desenvolvido pela ACBM em colaboração com a Unidade de Recursos Genéticos, Reprodução e Melhoramento Animal do INRB, com o apoio da Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Alentejo, e da Direcção de Serviços de Produção Animal da Direcção Geral de Veterinária.
Graças a este trabalho de avaliação, hoje é possível conhecer o potencial produtivo de cada animal sendo fácil ao criador escolher o reprodutor que mais interesse, com vista ao melhoramento da sua vacada.
Sempre ao lado dos seus associados, por volta do ano 2005 a ACBM encetou esforços na criação de estruturas físicas que melhorassem ainda mais a qualidade dos serviços prestados. Exemplo disso é o Centro de Testagem e Recria da Raça Mertolenga situado na H. dos Currais e Simalhas, propriedade cedida pela DRAPAL e onde a ACBM fez um investimento considerável com o apoio da DGV e do Programa Leader. É ali que todos os machos candidatos a futuros reprodutores são testados. Os machos entram com idade entre os 8 e 10 meses e saem com 15 a 17 meses, já testados e aprovados com base num protocolo que inclui a realização de exame andrológico. Apenas os animais aprovados no teste em estação e considerados aptos no referido exame são validados como futuros reprodutores.
Recria e acabamento para os criadores que não o podem fazer na sua exploração
A ACBM disponibiliza aos criadores que não têm condições para recriar os machos nas suas explorações, a possibilidade de enviarem estes animais para o Centro de Recria e Acabamento, donde saem com destino à comercialização com Denominação de Origem Protegida ou seja, como Carne Mertolenga DOP.
O produtor inscreve atempadamente os animais que depois a Associação recebe, pesa e avalia face ao mercado existente, pagando 75% do valor ao criador. A Associação recria o animal durante o tempo necessário, preparando-o para abate e no final, o animal sobe novamente para a balança, sendo descontado o peso inicial e todos os gastos inerentes à sua permanência no Centro. O produtor recebe o restante valor.
Esta é uma forma da Associação cativar os seus associados porque há dificuldades financeiras incontornáveis. Todavia, o coordenador da ACBM, Feliciano Reis, não deixa de sublinhar que a produção tem de estar organizada para ter um volume constante anual de fornecimento e isso só se consegue fazer com uma grande abrangência e um trabalho com o produtor ou a criação de “feed-lots” (é o que se faz no Centro de Recria).
“Este trabalho é para gerar rentabilidade e se o sector se organizar e forem tomadas as medidas certas, será possível sem grandes dificuldades atingir os 70 a 75% de auto-consumo pretendidos. É a contribuição do sector da bovinicultura para o crescimento de todo o sector agrícola”.
Mertolenga DOP também gerida por produtores revela-se um triunfo
Se produzir só faz sentido para comercializar e é por via da diferenciação que se obtêm mais-valia, a raça mertolenga também tem o estatuto de Denominação de Origem Protegida para a sua carne, só alcançado por via da genuinidade preservada.
A responsabilidade da comercialização da Carne Mertolenga DOP cabe à PROMERT-Agrupamento de Produtores de Bovinos Mertolengos S.A.
Já não é a primeira tentativa mas esta surge num novo conceito, ou seja, não se trata de uma entidade externa mas sim de um grupo de produtores, unidos no seio da Associação que decidiu colocar a carne no mercado.
No último ano houve eleições e tomaram-se decisões importantes, explica-nos o presidente do conselho de administração, Eduardo Mira Cruz. Entre elas está uma nova imagem e um reposicionamento do produto que deixou de ser apenas mais uma carne para ser uma carne diferente, produzida em condições naturais. Outra grande diferença é que agora se trata de um produto trabalhado e controlado pelos próprios produtores desde o início até ao fim.
Sobre a Raça
Criadores: 241
Animais: 20 381 vacas inscritas em livro de adultos das quais cerca de50% são exploradas em linha pura.
Características: É uma raça de regiões edafo-climáticas severas, do ponto de vista do ambiente envolvente: clima e orografia, tipo de solos, qualidade e quantidade da pastagem natural.
Dispersão geográfica: o efectivo reprodutor inscrito no Livro Genealógico e em actividade distribui-se pelos distritos de Castelo Branco, Santarém, Setúbal, Portalegre, Évora e Beja.
Sobre a carne
Apresentações: fatiados, vários bifes, picados (hambúrgueres, carne picada e almôndega) – pensa-se no lançamento de um hambúrguer gourmet ultra-congelado e a almôndega ultra-congelada – possivelmente ainda este ano.
Objectivo: dar escoamento a todos os animais de raça mertolenga que não fiquem para substituição como reprodutores.
Carne: sabor intenso, tenra, suculenta e, dadas as especificidades da raça tem a capacidade de pôr gordura entre os tecidos e que vai dar sapidez e sabor à carne. Outro pormenor importante é a idade em que os animais são abatidos – até aos 15 meses de idade – cerca de 200 kg de carcaça.