Paralisação dos transportes penaliza fortemente a fileira do leite

Dificuldades para escoar o leite das explorações, dificuldades para fazer chegar os produtos lácteos junto dos consumidores

A Associação Nacional dos Industriais de Lacticínios vem, em nome de todas as empresas lácteas nacionais. dar público conhecimento da sua crescente preocupação relativamente às consequências da paralisação do sector dos transportes sobre toda a fileira do leite.

Nas últimas horas têm-se multiplicado as informações provenientes de diferentes empresas associadas dando conta das crescentes dificuldades para proceder à recolha do leite nas explorações leiteiras e os sucessivos obstáculos ao transporte dos produtos terminados e sua entrega nos locais de destino.

O sector tem ainda bem presente a paralisação dos transportadores, ocorrida em Junho de 2008 e os fortes prejuízos, nunca ressarcidos, que a mesma causou às empresas de lacticínios e ao conjunto da fileira do leite.

Como é do conhecimento geral, o leite em natureza – a matéria-prima essencial do nosso sector – é um produto altamente perecível, sendo que entre o momento da ordenha e o da sua transformação nos vários produtos lácteos que consumimos, medeia um curto espaço de tempo, findo o qual esse mesmo leite se torna inutilizável, convertendo-se num resíduo que, se não for destruído pelos meios próprios, se torna num potencial problema de saúde pública e, também, um problema de natureza ambiental.

Por outro lado, deve recordar-se que a ordenha dos animais em produção, é um acto realizado obrigatoriamente duas vezes por dia, seja ou não esse leite levantado das explorações e encaminhado para as unidades industriais para a sua transformação industrial. O não levantamento desse leite representará um elevado prejuízo para os produtores afectados.

De um outro ângulo, há a referir que a capacidade de armazenamento das próprias unidades industriais depende do escoamento, para o mercado, dos produtos terminados que diariamente são aí fabricados. Não basta pois, receber o leite da produção, há que o transformar e colocar no mercado, para haver novamente espaço para o receber e transformar. Para além disso, há outras matérias, por exemplo outros ingredientes ou os materiais de embalagem, cuja ausência impede que o processo de transformação se desenvolva e que o ciclo do produto decorra sem sobressaltos.

São, pois, cerca de seis milhões de litros de leite que - todos os dias – entram nas unidades industriais do sector de lacticínios do nosso país, provenientes dos milhares de explorações leiteiras espalhadas por todo o território, mas são igualmente milhões de litros de leite que convertidos nos mais diversos produtos lácteos (leite embalado, iogurtes, queijos, manteiga, nata, bebidas lácteas,...) todos os dias delas saem, seguindo os circuitos logísticos e comerciais, chegando a milhares de pontos de venda e seguindo destes para nossas casas com toda a segurança, qualidade e comodidade.

Como é do conhecimento público, a fileira do leite atravessa actualmente um período de fortíssimas dificuldades e esta paralisação gerará elevados prejuízos ao sector, seja pelas dificuldades do levantamento de leite das explorações e de encaminhamento desse leite para as unidades industriais, seja pela dificuldade de fazer sair os produtos das fábricas e os encaminhar para os circuitos comerciais.

Há explorações que entrarão em situação de ruptura e ver-se-ão obrigadas a destruir o leite que produzem, há unidades industriais que poderão ter que suspender as suas produções, há prateleiras nos espaços comerciais que tenderão a ficar vazias, há, finalmente, a franca possibilidade de os consumidores deixarem de ter acesso a um conjunto de produtos fundamental na sua alimentação.

Assim e não obstante alguma compreensão em relação aos motivos apresentados pelas entidades que convocaram esta paralisação, relacionados com o incremento dos custos com os combustíveis – embora se deva recordar que a indústria de lacticínios e toda a fileira do leite, assim como outros sectores de actividade, é, ela também, altamente prejudicada por esse acréscimo de despesas – vem a ANIL solicitar que seja encontrada uma rápida resolução das questões que permitam a desmobilização desta paralisação e o retomar da normal actividade por parte do sector.

Não questiona a ANIL a legitimidade destes protestos, mas tal não implica que seja minimamente aceitável que desses protestos resultem por acção dos transportadores e por inacção das autoridades, avultados prejuízos a sectores alheios à paralisação. Vem, pois, a ANIL exigir a transportadores e autoridades a atenção, a responsabilidade e o accionamento dos meios que permitam o escoamento e a comercialização do leite e seus derivados, bens rapidamente perecíveis e essenciais na alimentação de todos os grupos etários e sócio-económicos do nosso país.

Porto, 15 de Março de 2011, a Direcção da Anil