ONU pede políticas a favor da agricultura familiar
Ban Ki-moon e José Graziano da Silva apelam por um compromisso mundial para com o Ano Internacional da Agricultura Familiar
O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon e o diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva, pediram aos governos que aumentem o apoio aos pequenos agricultores familiares de todo o mundo com o objetivo de ganhar a luta contra a fome.
Ban ressaltou que o Ano Internacional da Agricultura Familiar, que se celebra em 2014, é um apelo para por compromissos. A mensagem foi também transmitida por Graziano no Fórum Mundial e na Expo sobre Agricultura Familiar que acontece em Budapeste.
“Os governos podem emponderar os agricultores familiares, especialmente as mulheres e os jovens, mediante políticas que propiciem um desenvolvimento rural equitativo e sustentável. Isso inclui uma melhor infraestrutura para reduzir a quantidade de alimentos que se perdem depois da colheita, quando os pequenos produtores não têm capacidade para armazenar, processar e transportar os seus produtos”, afirmou Ban Ki-moon.
O secretário-geral da ONU disse também que o financiamento público e privado deve proporcionar serviços financeiros vitais, como o crédito e os seguros.
Ban advertiu que os agricultores familiares de pequena escala estão particularmente vulneráveis aos impactos climáticos, como as condições meteorológicas estremas, as secas e as inundações.
Políticas favoráveis à agricultura familiar
Durante o discurso no Fórum, José Graziano reafirmou as palavras do secretário-geral para que os governos adotem políticas explicitamente a favor da agricultura familiar.
Sublinhou que os agricultores familiares, os pescadores, as pessoas que dependem da floresta, os pastores e as comunidades tradicionais e indígenas são fundamentais para a segurança alimentar na maioria dos países mas, ao mesmo tempo, estão entre as populações mais vulneráveis do mundo.
Segundo o diretor-geral, um estudo recente em 93 países mostra que a agricultura familiar representa mais de 90 por cento do total das explorações agrícolas, indicou Graziano no fórum.
Os agricultores familiares também gerem a maioria dos terrenos agrícolas do mundo, incluindo 63 por cento na Europa.
"Além de produzirem uma grande parte dos alimentos que comemos, os agricultores familiares são, de longe, a maior fonte de emprego no mundo", sublinhou o diretor-geral, acrescentando que são também guardiões da biodiversidade agrícola do mundo e dos recursos naturais.
A ameaça do abarcamento de terras
O diretor-geral da FAO chamou a atenção para a importância de proteger os agricultores familiares das crescentes ameaças ao seu acesso tradicional à terra, como a insegurança e o abarcamento de terras.
As diretrizes voluntárias sobre a governança responsável da posse da terra, aprovadas pelo Comité de Segurança Alimentar Mundial, assim como os Princípios sobre Investimentos Agrícolas Responsáveis – atualmente em fase de negociação – são de grande importância para manter as ameaças sob controlo.
“Existem grandes investimentos do setor privado na agricultura e estes vão continuar, quer queiramos, quer não”, explicou José Graziano. “Sendo assim, é muito importante que haja um entendimento comum sobre como investir em formas que sejam sustentáveis e protejam os direitos dos agricultores familiares e as comunidades pobres”.
Embaixadores especiais
A secretária-geral da Associação de Agricultores da Ásia, Esther Penunia, o presidente da zona sul da secção artesanal da Federação Nacional de Pesca de Mauritânia, Mohamed Ould Saleck e o presidente da Associação Europeia de Agricultores, Gerd Sonnleitner, aceitaram formalmente durante o Fórum de hoje serem nomeados como Embaixadores Especiais da FAO para a Agricultura Familiar.
Juntam-se assim a outros embaixadores especiais já nomeados: Ibrahima Coulibaly, presidente da Coordenação Nacional de Organizações Campesinas do Mali e Mirna Cunningham, ex-presidente do Fórum Permanente para as Questões Indígenas das Nações Unidas.