Leishmaniose: 80% dos cães doentes não têm tratamento
O Observatório Nacional das Leishmanioses (ONLEISH) apresentou, no II Encontro Nacional de Médicos Veterinários, que decorreu entre os dias 8 e 9 de Outubro, os resultados do segundo relatório da rede de vigilância epidemiológica leishmaniose canina, Leishnet. Os dados revelam que apenas 20% dos cães anteriormente diagnosticados com leishmaniose são tratados com insecticidas.
Entre 1 de Abril e 31 de Março de 2011, a rede Leishnet desenvolveu um trabalho de vigilância epidemiológica, que englobou todo o país, para estudar a leishmaniose canina e propor formas de combater a prevalência de uma “doença que deve ser seguida de perto, pois constitui um risco para a Saúde Pública”, avisa Carla Maia, membro do ONLeish.
Segundo o relatório, dos 1278 cães rastreados, foram detectados 864 animais suspeitos, sendo que foram diagnosticados 359 casos positivos, dos quais 266 são novos casos de doença. Lisboa foi a região com mais casos positivos (79).
A maioria dos novos de leishmaniose consiste em animais que vivem a maior parte do tempo ou exclusivamente fora de casa, perfazendo um total de cerca de 48%, no entanto, os animais que vivem predominantemente dentro de casa não estão ausentes de riscos. A diferença entre raças não parece ser substancial, o mesmo acontecendo com a distribuição por género, pois a percentagem de novos casos de Leishmaniose é muito semelhante entre fêmeas e machos. No entanto, a pelagem parece ter influência, uma vez que a incidência nos cães de pêlo de tamanho curto ou médio é maior do que nos animais de pêlo comprido.
Os dados revelam também que apenas 20% dos cães infectados com leishmaniose são tratados com insecticidas, o que segundo Carla Maia, “pode ser uma ameaça para a saúde pública, uma vez que estes animais são uma fonte de infecção. Não nos devemos esquecer que a prevenção da picada do insecto transmissor da leishmaniose, com coleiras ou pipetas especiais, deve ser uma constante não só nos animais não doentes mas também nos animais doentes”.
A Leishnet, criada em 2010 pelo ONLEISH, contou em 2011 com um aumento de 20% na participação das clínicas veterinárias, relativamente ao último relatório apresentado. Lisboa foi a cidade que mais participou, com a entrega de 291 fichas, seguida por Faro e Setúbal.
“Alargar a rede de clínicas veterinárias participantes e o correcto preenchimento dos dados”, são os objectivos que Carla Maia aponta para o próximo relatório, que estima que esteja concluído em Abril de 2012. “Estes dois factores são muito importante para garantir o acesso a dados reais sobre a evolução da incidência da leishmaniose no nosso país”, explica a Coordenadora.
Em Portugal a prevalência é considerada elevada, com mais de 110 mil cães infectados, cerca de 6% da população canina, sendo endémica em grande parte do território continental, nomeadamente, nas regiões de Trás-os-Montes e Alto Douro, Beiras, Lisboa e Vale do Tejo e Sado, Algarve e grande parte do Alentejo.
Sobre a Leishmaniose Canina:
A Leishmaniose Canina é uma infecção grave dos cães causada pelo parasita Leishmania e transmitida por um insecto, denominado de flebótomo. É uma doença de evolução crónica que, sem tratamento, leva à morte do cão. É transmissível ao Homem e constitui um risco para a Saúde Pública.
Sobre o ONLeish e a Leishnet:
O ONLeish segue uma tendência europeia de vigilância e prevenção transfronteiriça, tendo special atenção ao aquecimento global de consequente (re)emergência e propagação das doenças tropicais na Europa, nomeadamente nos países do Sul, junto ao Mediterrâneo.
A Leishnet é uma rede epidemiológica de Leishmaniose canina e uma base de dados dos casos específicos diagnosticados em Portugal.